sábado, 24 de dezembro de 2011

Partido Social da Discriminação?








No fim do mês de novembro o Partido Social Cristão (PSC) publicou o seu 24º informativo, com oito páginas que trazem as principais notícias sobre suas conquistas e projetos em andamento, envolvendo seus candidatos para as próximas eleições, seus senadores e deputados em atuação. A matéria de capa é intitulada “Em defesa da família – PSC lança campanha de promoção dos valores familiares” e inicia mostrando os seguintes dados de sua propaganda eleitoral: “Ao todo, foram veiculados, em rede nacional de rádio e televisão, 40 inserções de 30 segundos e um programa partidário de dez minutos, entre os dias 13 e 27 de outubro. Neles, o PSC destacou suas ideias, bandeiras e propostas”.

Nas propagandas, entre algumas falas de candidatos, foi inserida uma vinheta em que uma criança diz “Homem + Mulher + Amor = Família”, enquanto a frase também aparece em tons verdes na tela. Os comerciais geraram polêmica em função desse ideal, no qual a definição de família é restrita a apenas três elementos imutáveis, e, por isso, no editorial do informativo do PSC, o vice-presidente do partido, Everaldo Pereira, esclareceu a frase dizendo “Sabemos que essa não é a única equação possível: Avô + Neto + Amor = Família; Mãe + Filho + Amor = Família; e muitas outras. Mas o PSC reafirma que somente a união entre homens e mulheres torna possível a existência da humanidade, e por isso, vamos sempre trabalhar em defesa da família nuclear, base da sociedade e da perpetuação da raça humana”. Será mesmo que a humanidade só é possível caso a família seja constituída da união entre um casal heterossexual? Será que as técnicas de reprodução assistida já não são uma prova de que a ciência evoluiu o bastante para que essa união não seja obrigatória para que a humanidade não corra o risco de entrar em extinção? E que humanidade seria essa que o PSC propõe, onde está o fator humanístico nessa proposta excludente? É neste ponto que podemos ver que o maior defeito do ser humano é não ser humano o suficiente.

Somente por esse trecho do editorial, o significado da sigla do partido deveria ser “Preconceito Social Cristão”. O PSC discrimina claramente os homossexuais, considerando que é impossível uma união entre pessoas do mesmo sexo gerar uma entidade familiar e, por isso, estão tentando aprovar leis que tiram os direitos que essa classe vem conquistando. Um exemplo dessa tentativa é o Projeto de Lei 7018/2010, proposto pelo deputado Zequinha Marinho (PA), que visa proibir a adoção de crianças por casais homossexuais.

Será mesmo que as crianças que estão em orfanatos preferem ali continuar a terem uma família constituída pelo afeto de dois pais ou duas mães? O deputado Zequinha considera que “Apenas homens e mulheres formam uma verdadeira família. Crianças em adoção não podem sair de uma situação de dificuldade para entrar em outra”. Entretanto, há estudos jurídicos considerados pela primeira desembargadora mulher do estado do Rio Grande do Sul, Maria Berenice Dias, que mostram que o conceito de família mudou e ele está muito mais ligado ao afeto do que à organização da entidade familiar. Se os indivíduos mudaram, acompanhando as transformações sociais modernas, com a família não seria diferente: novas estruturas surgem, além dos elementos tradicionais equacionados pelo partido. Isso é evolução social. 

O deputado Zequinha tenta argumentar que “O ser humano é produto do meio. Se uma criança for criada por um casal homossexual, certamente isso terá influência, futuramente, na sua opção sexual”. Ele está totalmente equivocado. Em primeiro lugar, ninguém opta por ser homo ou heterossexual: a sexualidade é uma condição imposta a todo ser vivo animal, logo, não pode ser escolhida. Em segundo lugar, se a sexualidade dos pais influenciasse na dos seus filhos, nenhum ser humano seria homossexual, partindo do princípio que a primeira geração humana começou com o envolvimento entre pessoas de sexos diferentes.

Na matéria de capa do informativo, o PSC afirma que eles não se baseiam apenas em preceitos cristãos para construírem seus argumentos, mas levam também em consideração a ciência que, de acordo com eles “prova que se não fosse a combinação de homem + mulher a espécie humana simplesmente não existiria”. Entretanto, essa “combinação” apenas se fazia necessária há séculos atrás, quando a própria ciência ainda não havia encontrado outras formas de fertilização sem o contato direto entre homem e mulher, como a inseminação artificial, por exemplo.

Ora, é óbvio que o PSC tem como base constitucional e argumentativa os preceitos clérigos. Eles mostram isso abertamente no seu estatuto, dizendo que o partido “tem como fundamento a Doutrina Social Cristã, onde o Cristianismo, mais do que uma religião, representa um estado de espírito que não segrega, não exclui, nem discrimina, mas que aceita a todos, independentemente de credo, cor, raça, ideologia, sexo, condição social, política, econômica ou financeira” e colocando, de acordo com os mesmos, “o ser humano em primeiro lugar”.

O partido de fato não segrega? Não exclui, nem discrimina? Eles realmente colocam o ser humano em primeiro lugar? Eu, como homossexual, sinto-me, sim, excluído por ainda não ter todos os meus direitos assegurados (eu mal poderia alegar que fui vítima de homofobia por ter sido espancado enquanto andava de mãos dadas com meu namorado) e discriminado por ver deputados tentando acabar com os poucos que tenho, como poder adotar um filho e constituir uma família, além de me sentir totalmente segregado à raça humana quando o partido não coloca os direitos de que necessito em primeiro lugar, mas ao contrário: luta contra toda a classe LGBTT.

Todos nós, brasileiros, estamos inseridos em um Estado Laico, sem interferência alguma da igreja para que decisões políticas sejam tomadas. Por que, então, o PSC insiste em se embasar na bíblia para definir o que pode ou não? Se os seus ideais fossem seguidos, estaríamos sujeitos a voltarmos à Santa Inquisição e sermos perseguidos por termos opiniões contrárias. A democracia deixaria de existir e uma ditadura se instalaria. Além disso, se levarmos esses embasamentos ao pé da letra podemos entender que o partido acredita no criacionismo, logo, que Deus criou o homem e a mulher e que descendemos destes dois indivíduos, portanto acreditam que seríamos produto de uma série de incestos, tanto desses primeiros indivíduos, como de seus filhos e assim sucessivamente.

Eu e, provavelmente, todos homossexuais estamos cansados de sermos inferiorizados, de ter medo de sermos espancados, e sermos tratados de forma diferente perante a lei - que, apesar de tudo, em seu quinto artigo da constituição afirma que todos nós somos iguais diante dela -, em justificativa de ideais preconceituosos como os do PSC. O partido precisa reavaliar os seus conceitos, argumentos e ideais, pois eles discriminam seres humanos, contradizendo, portanto, os princípios do próprio partido, que constam em seu estatuto e violando o quinto (e mais importante) artigo da constituição federal.

Phillipp Gripp

Estudante do 4º semestre de Jornalismo
Fundação Universidade Federal do Pampa
Unipampa - São Borja

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Campanhas 2011 que atingem a comunidade LGBTT

Avanços - Secretária de Direitos Humanos do Governo Federal, Unesco e Globo -Lançam em horário nobre video contra homofobia - Excelente mensagem!



Campanha da Secretaria Nacional de Direitos Humanos em defesa dos direitos humanos onde inclui a comunidade LGBTT...



Campanha 2011 do dia mundial de combate ao HIV/AIDS da Secretaria Nacional de Saúde... muito boa!!!



Campanha do carnaval 2011 do Rio de Janeiro... muito boa... vale a pena ver...



Campanha em comemoração dos 10 anos da ONG Somos de Porto Alegre, exaltando muito entusiasmo e esperança de que o mundo possa ser melhor é só acreditar em seus sonhos...




As novas famílias, e a defesa do direito ao acesso a saúde.

A empresa de planos de saúde Unimed lança uma campanha que emociona a comunidade LGBTT, ao reconhecer a multiplicidade da família


Umas das empresas gaúchas de grande visibilidade nacional mostrando que é necessário entender que nem sempre família é aquela feita por pai, mãe e filhos... hoje em dia depois do reconhecimento do casamento as famílias serão cada vez mais múltiplas...

“Homofobia é crime” é o grito da 2ª Conferência LGBT


Participantes exigem a restauração do texto do PL que criminaliza a homofobia. Assistentes sociais marcam presença



Durante a fala da ministra, delegados/as exigiram ações concretas do Governo Federal (foto: Rafael Werkema) 

Terminou no domingo, 18 de dezembro, em Brasília, a 2ª Conferência Nacional de Políticas Públicas e Direitos Humanos de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (LGBT). A última conferência do ano foi marcada, de um lado, pela insistência do Governo Federal em afirmar que houve grandes avanços na afirmação dos direitos da população LGBT, e de outro, pela reivindicação dos/as participantes pela restauração do texto original do projeto de lei que criminaliza a homofobia e pelas denúncias de crimes homofóbicos. O CFESS marcou presença com os/as conselheiros/as Maurílio Matos e Marylucia Mesquita.

"Todos os dias, lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais são vítimas de constrangimentos, atitudes violentas e até levados a morte. Não é possível que crimes motivados pelo ódio sejam tolerados no país da diversidade", afirmou a ministra da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH/PR), Maria do Rosário. Segundo ela, o ano de 2011 pode ser considerado "um marco da árdua e constante luta contra todos os tipos de discriminações", destacando a decisão história do Supremo Tribunal Federal (STF), que reconheceu, por unanimidade, em maio deste ano, a união estável homoafetiva.

O presidente da Associação Brasileira (ABGLT), Toni Reis, fez uma análise de avanços e retrocessos referente aos direitos da população LGBT desde a 1ª Conferência, em 2008, e ressaltou como vitória, além da decisão do STF, o Plano Nacional de Promoção da Cidadania e Direitos Humanos LGBT, a Coordenação-Geral Nacional de Políticas LGBT, além de instaurado o Conselho Nacional de Combate à Discriminação e Promoção de Direitos Humanos LGBT. "Contraditoriamente, mesmo com os avanços no plano federal, observou-se ainda um acirramento da violência homofóbica e da resistência de setores conservadores e fundamentalistas religiosos contrários a qualquer tipo de afirmação dos direitos da população LGBT. É nesse contexto que a presidenta Dilma, em decisão equivocada e retrógrada, recuou em relação ao material didático-pedagógico do projeto Escola Sem Homofobia, trazendo a mensagem de que a luta LGBT deve ser feita autonomamente de governos", criticou.

Para a piauiense e militante da Liga Brasileira de Lésbicas (LBL), a advogada Marinalva Santana, a Conferência é mais uma forma de enfrentamento a todas as formas de preconceito. "Em uma conjuntura difícil de aumento da violência contra a população LGBT, nosso papel aqui é exigir ações concretas do Estado em defesa dos direitos humanos de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais. O que vemos é muita conversa e pouca atitude e está na hora desse quadro mudar", cobrou. Ela ressaltou também o papel decisivo do movimento LGBT, enfatizando que "a subserviência diante dos governos - sejam eles de quaisquer partidos ou forças políticas - devem ser varridos de nossa prática militante" e falou ainda da responsabilidade da sociedade em "levar a cabo a discussão dos temas que estão na ordem do dia, inclusive para dar o bom exemplo de uso responsável com os recursos públicos investidos nesta Conferência".

Marylucia Mesquita e Maurílio Matos, do CFESS, com o manifesto distribuído durante a Conferência (foto: Rafael Werkema)

Participantes denunciam violência e pedem ações mais concretas

Durante a Conferência, foram aprovadas propostas e moções de apoio à versão original do projeto que torna a homofobia um crime equivalente ao racismo e ao antissemitismo (perseguição a judeus). De acordo com os/as delegados/as, o substitutivo que tramita na Comissão de Direitos Humanos do Senado é genérico e não atende às demandas da população LGBT.

Outra reivindicação aprovada foi a de aumentar a articulação entre a União e os governos estaduais e municipais na promoção de políticas públicas específicas. 

Em todas as mesas e painéis, participantes relataram casos de violência contra a população LGBT. "Acolhemos uma lésbica que foi estuprada durante 30 dias por traficantes que queriam 'corrigir' sua orientação sexual. E o poder público nada fez", relatou uma delegada. Um transexual masculino afirmou ter sido vítima da violência policial no Nordeste: "disseram que se eu queria ser homem, deveria apanhar como homem", denunciou. E assim, durante toda a Conferência, os/as delegados/as trouxeram histórias de violência contra a população LGBT, mostrando que a ausência de políticas públicas efetivas do Estado em relação aos direitos desta população e a falta legislação específica contribuem para o agravante quadro de violação de direitos humanos.

"Os/as assistentes sociais são reconhecidos como profissionais que atendem às pessoas que vivenciam na perversidade cotidiana da sociedade capitalista os efeitos da questão social. A discriminação e a violência são uma destas expressões e, não por acaso, as que mais atingem a população LGBT. Buscar mudar essa realidade, em articulação com movimentos sociais, órgãos de defesa dos direitos humanos, entidades da própria categoria profissional, entre outros, construindo também uma prática de combate ao preconceito e buscando viabilizar o acesso a direitos e serviços, é uma contribuição imprescindível que o/a profissional de Serviço Social pode prestar", enfatizou o conselheiro do CFESS, Maurílio Matos.

Serviço Social e direitos da população LGBT
Não faltam instrumentos teórico-político-normativos do Conjunto CFESS-CRESS em relação à defesa dos direitos da população LGBT. A começar pelo Código de Ética do/a Assistente Social, que traz princípios em defesa da liberdade, autonomia, diversidade da pessoa humana, e de luta contra a discriminação por orientação sexual, gênero, identidade de gênero e etnia etc. 

Em 2006, o Conjunto CFESS-CRESS lançou a campanha nacional pela liberdade de orientação e expressão sexual "O amor fala todas as línguas: assistente social na luta contra o preconceito", em parceria com o Instituto em Defesa da Diversidade Afetivo-Sexual (DIVAS), a Liga Brasileira de Lésbicas (LBL), a Articulação Brasileira de Lésbicas (ABL) e a Associação Brasileira de Gays, Lésbicas e Transgêneros (ABGLT), e publicou a Resolução 489/2006, que estabelece normas vedando condutas discriminatórias ou preconceituosas, por orientação e expressão sexual por pessoas do mesmo sexo, no exercício profissional do/a assistente social.

Em 2010, o CFESS adotou o "Manual de Comunicação LGBT", que serve de orientação para imprensa e sociedade trazendo termos, leis, datas e outras informações que ajudam, sobretudo, os meios de comunicação a compreenderem a realidade e as necessidades do público LGBT. 

E mais recentemente, publicou a Resolução CFESS nº 615/2011, de 8 de setembro de 2011, que permite à assistente social travesti e ao/à transexual a utilização do nome social na carteira e na cédula de identidade profissional. A normativa possibilita a utilização do nome social nas assinaturas decorrentes do trabalho desenvolvido pelo/a assistente social, juntamente com o número do registro profissional.

"Entretanto, ainda tem assistente social que não apreendeu esse conteúdo e sentimos isso na pele, ao sermos atendidas em Centros de Referência Especializados de Assistência Social (CREAS)", reclama a travesti e militante LGBT paraense Symmy Larrat. Segundo ela, é preciso aprofundar o debate com a categoria sobre a diversidade e o atendimento ao/à usuário/a LGBT. "Às vezes, vemos o despreparo de alguns/as profissionais assistentes sociais, a começar pela forma de se referir ao público LGBT", afirmou. 

Mas para o assistente social e professor da UERJ, Guilherme Silva de Almeida, o Serviço Social, nos últimos anos, vem aprofundando a temática LGBT, pincipalmente no que diz respeito à produção acadêmica, o que contribui muito para o exercício profissional do/a assistente social. "A inserção da nossa profissão na questão dos direitos humanos LGBT precisa estar cada vez mais qualificada", apontou. 

Guilherme falou também da importância da participação dos/as assistentes sociais na Conferência que, segundo ele, aumentou em relação à primeira edição, mostrando que o Serviço Social está se apropriando sim do debate sobre a diversidade humana. "Lembro-me que na 1ª Conferência, em uma discussão que participei em um grupo de trabalho, militantes do movimento LGBT mostravam pouco entendimento sobre o Serviço Social, mais especificamente sobre a Política de Assistência Social. Alguns/as até achavam que era 'corporativismo' nosso. Aí eu questionei que se elas/as achavam que não existia pessoa LGBT em situação de rua, pessoa LGBT em situação de extrema pobreza, adolescente LGBT, idoso/a LGBT, pessoa LGBT com deficiência, o Serviço Social não seria necessário. Hoje, o cenário é outro: um maior número de assistentes sociais na Conferência e uma demanda maior de usuários/as LGBT de Serviço Social", relatou.

Reunião com assistentes sociais foi importante para discutir a questão do Cadastro Único (foto: Rafael Werkema)

CFESS se reúne com assistentes sociais 

Nem a falta de espaço, nem o horário desfavorável foram capazes de desmobilizar a reunião organizada pelo CFESS com os/as assistentes sociais presentes na 2ª Conferência Nacional de Direitos Humanos de LGBT. Mais de vinte profissionais e estudantes marcaram presença no encontro, que aconteceu no horário de almoço do dia 16/12.

Os/as conselheiros/as Maurílio Matos e Marylucia Mesquita, da Comissão de Ética e Direitos Humanos do CFESS (CEDH), conversaram por mais de uma hora sobre as ações do Conjunto CFESS-CRESS em defesa dos direitos da população LGBT. Foram apresentados os posicionamentos do CFESS na defesa intransigente dos direitos humanos, da liberdade como valor ético central e do combate a todas as formas de preconceito e discriminação que se afirmam por meio da reprodução do machismo, sexismo, racismo, homofobia/lesbofobia/transfobia – ao não respeito à diversidade humana.

Segundo a coordenadora da CEDH, Marylucia Mesquita, a reunião "foi fundamental para dar visibilidade a uma área de atuação que ainda se afirma como 'marginal' no âmbito profissional, uma vez que tanto a população LGBT, bem como os/as assistentes sociais que afirmam suas identidades políticas como lésbicas, travestis, gays e transexuais, enfrentam, cotidianamente, a homofobia/lesbofobia/transfobia institucional, fruto do sistema de dominação heterosexista".  Ela fez questão de ressaltar as duas Resoluções do CFESS como subsídios importantes para a categoria e para a população LGBT no reconhecimento de seus direitos e a importância de os/as assistentes sociais divulgarem mais instrumentos e iniciativas.

Também na reunião foi discutida a questão da alteração do Cadastro Único no âmbito da Política de Assistência Social. "É um dos maiores desafios, uma vez que se trata de um instrumento que identifica e caracteriza as famílias, possibilitando conhecer sua realidade socioeconômica, trazendo informações do núcleo familiar e de cada um/a dos/as componentes da família. No entanto, a família LGBT não está visibilizada. Ora, se é com uma referência familiar heteronormativa que se trabalha, como estes/as usuários/as LGBT vão ter acesso aos seus direitos?", questionou Marylucia, afirmando que a população LGBT precisa ser reconhecida como usuária no Cadastro Único para, efetivamente, ter acesso aos programas e políticas sociais. "Por isso, é necessário que os/as assistentes sociais que atuam com esta população sistematizem suas experiências e invistam em pesquisas que permitam conhecer o perfil sócio econômico e cultural, para podermos identificar as reais necessidades e demandas desta população em quaisquer políticas, como Assistência Social, Saúde, Educação, Segurança, Habitação, dentre outras", completou. 

Para Maurílio Matos, "a reunião mostrou que já há, nos diferentes cantos do Brasil, assistentes sociais que, no seu dia-a-dia, constroem uma prática profissional de combate às diferentes expressões de homofobia, lesbofobia e transfobia. Também percebemos que a reunião foi um espaço importante de articulação entre os/as profissionais, na defesa de propostas importantes nas suas áreas de ação profissional, especialmente nos campos da Previdência, da Assistência Social". 

Adesivo distribuído na Conferência (ilustração: Rafael Werkema)


CFESS Manifesta, adesivo e cartaz 


Também durante a reunião, o CFESS lançou, oficialmente, o manifesto "Assistentes sociais em defesa da Diversidade Humana", produzido especialmente para a 2ª Conferência. "O Conselho Federal representa, aproximadamente 110 mil assistentes sociais em todo o Brasil e atua em conjunto com 25 Conselhos Regionais na fiscalização e orientação do exercício profissional, na defesa de um projeto profissional vinculado a um projeto societário anticapitalista, não patriarcal, antirracista e não heterosexista. É com base nesse entendimento que, no âmbito de sua atuação na defesa de uma ética libertária e emancipatória e na defesa intransigente dos direitos humanos, nos empenhamos na eliminação de todas as formas de preconceito, recusa toda forma de arbítrio e autoritarismo. E dessa forma incentivamos o respeito à diversidade e à participação de grupos socialmente discriminados", afirma trecho do documento.

Um adesivo com os dizeres "Homofobia é crime. Aprovação do PLC 122 já" também foi distribuído. 

E em resposta uma demanda dos CRESS e do próprio movimento LGBT, e cumprindo uma das deliberações do eixo Ética e Direitos Humanos do 40º Encontro Nacional CFESS-CRESS, o CFESS reimprimiu também cartazes da campanha "O amor fala todas as línguas: assistente social na luta contra o preconceito", que foi distribuído para os/as participantes. O material será enviado aos CRESS e Seccionais de Base para distribuição.



Cartaz "O amor fala todas as línguas" foi reimpresso e distribuído na Conferência (foto: Rafael Werkema)

Avaliação sobre a 2ª Conferência

Para militante da Liga Brasileira de Lésbicas (LBL), Marinalva Santana, o destaque da 2ª Conferência foi para a posição firme dos/as participantes em rejeitar veementemente o substitutivo da Senadora Marta Suplicy para o PLC 122/2006. 

"A 2ª Conferência afirmou que a luta pela criminalização da homofobia/lesbofobia/transfobia permanece como uma das estratégias fundamentais da agenda de tendências do movimento LGBT críticas aos acordos realizados com perspectivas fundamentalistas que negam os princípios do Estado Laico", opinou Marylucia Mesquita, da CEDH-CFESS. 

Ela afirmou que ainda falta orçamento público para as políticas LGBT, sobretudo no que se refere ao funcionamento dos Centros de Referência LGBT e demais equipamentos das políticas sociais, a exemplo de CRAS e CREAS, com profissionais qualificados/as devidamente para o enfrentamento à homofobia/lesbofobia/transfobia social e institucional. "Faltam recursos para realização de pesquisas que permitam traçar um perfil sócio econômico e cultural dessa população, possibilitando alcançar suas reais necessidades e demandas nas diferentes políticas sociais". E finalizou dizendo é necessário ampliar o número de assistentes sociais na defesa dos direitos humanos LGBT. "Essa luta não diz respeito apenas ao movimento LGBT ou a quem vivencia essa forma particular de opressão, mas sim a todos/as aqueles/as que acreditam e lutam pela construção de uma sociabilidade efetivamente libertária e com emancipação humana", completou.

(com informações da SEDH, Agência Brasil e ABGLT)



VEJA MAIS FOTOS


Plenários cheios para debate dos mais variados temas (foto: Rafael Werkema)


Grupos de trabalho discutem Saúde (foto: Rafael Werkema)


Assistentes sociais marcaram presença nos grupos de trabalho. Na foto, Guilherme Silva de Almeida e Marco José Duarte (foto: Rafael Werkema)


A conselheira do CFESS Marylucia Mesquita faz intervenção na mesa que discutiu Políticas Públicas e Direitos da População LGBT (foto: Rafael Werkema)


Grupo de trabalho discute propostas a serem levadas para a Plenária Final (foto: Rafael Werkema)




Conselho Federal de Serviço Social - CFESS
Gestão Tempo de Luta e Resistência – 2011/2014
Comissão de ComunicaçãoRafael Werkema - JP/MG 11732
Assessor de Comunicação

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Os cinco momentos mais gays da TV brasileira em 2011

DE SÃO PAULO


Houve uma época em que só gays fechativos apareciam na televisão. Clodovil na "TV Mulher", Jorge Lafond (a Vera Verão) em "A Praça É Nossa" e mais alguns gatos pingados, que tinham a coragem de dar a cara para bater num Brasil ainda mais atrasado que o de hoje.

Não é culpa desses pioneiros, é claro, mas suas presenças esfuziantes na telinha também serviram para cristalizar a ideia de que todo homossexual masculino é uma doida desvairada. E as lésbicas, coitadas, simplesmente não existiam.


Os tempos mudaram, e para melhor. As paradas de orgulho gay se espalharam do Oiapoque ao Chuí, o movimento pelos direitos igualitários ganhou força e algumas vitórias importantes foram conquistadas. Assim como na vida real, os gays também se tornaram mais visíveis na TV.


Praticamente não há mais novela da Globo que não conte com pelo menos um personagem homossexual, e programas como "Amor & Sexo" tratam do assunto com a maior naturalidade.


Claro que ainda há muito chão pela frente: na Record os gays só aparecem para serem malhados nos programas religiosos, e o famoso beijo entre pessoas do mesmo sexo se tornou uma miragem fugidia, sempre prometida e jamais cumprida.


O ano televisivo foi pródigo em momentos importantes para a causa gay. Quase todas as emissoras tiveram o seu, com a desonrosa exceção da já citada Record. Cito aqui os que mais me marcaram, mas houve muitos outros --ainda bem. Então vamos lá:
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Reprodução/TV Globo


O assassinato de Gilvan em "Insensato Coração"

A novela de Gilberto Braga e Ricardo Linhares teve meia dúzia de personagens LGBT, e bem variados: do afetado Roni (Leonardo Miggiorin) à viril Araci (Cristiana de Oliveira). Pena que o romance entre Hugo (Marcos Damigo) e Eduardo (Rodrigo Andrade) foi esterilizado, apesar do final feliz com direito a união civil. Mas a trama mais impactante foi mesmo a que culminou na morte do pobre Gilvan, surrado por uma turma de pitboys. O crime ecoou os inúmeros ataques que povoam nossos manchetes, e mostrou que a vida de uma bicha tem problemas muito mais sérios do que combinar plumas com paetês.
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Patricia Stavis/Folhapress


A resposta de Marcelo Tas a Jair Bolsonaro

As declarações do deputado fluminense, que entendeu errado uma pergunta de Preta Gil no "CQC" e destampou um poço de preconceitos e grossuras, escandalizaram metade do país (a outra metade, infelizmente, gostaria de votar nele nas próximas eleições). Mas, de todas as reações que o brucutu provocou, nenhuma foi tão ferina e profunda quanto a de Marcelo Tas. Na semana seguinte, o apresentador do programa proclamou ao vivo e a cores todo o amor e orgulho que sente pela filha Luiza, que é lésbica. Uma aula de civilização depois da barbárie.
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SBT


O beijo lésbico em "Amor e Revolução"

O autor Tiago Santiago foi esperto. Aproveitando a polêmica que já envolvia "Insensato Coração" --"afinal, o beijo gay sai ou não sai?"-- ele correu na frente e botou as personagens de Luciana Vendramini e Giselle Tigre para se agarrarem em sua novela. Teve muita repercussão, mas não reverteu em audiência. Alguns meses depois, a direção do SBT vetou um novo beijo gay na trama, dessa vez entre dois homens. Um passinho para frente, um passinho para trás.
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Divulgação


A sexualidade irrelevante dos gays no "BBB"

A 11ª edição do reality show mais popular do país teve bastante diversidade: dois homens gays, uma mulher bissexual e uma transexual. Com exceção desta última, que rodou na primeira semana --talvez por ter chocado os espectadores com sua trajetória pouco ortodoxa-- os outros três não foram eliminados por causa de sua orientação sexual (e não "opção", senhora presidenta). Lucival foi vítima de um complô; a anti-fofa Diana durou até a última semana; e o tresloucado Daniel, que quase repetiu a participação vitoriosa de Jean Wyllys em 2005, perdeu não por ser gay, mas por se tornar incovenientíssimo quando bêbado. Outro sinal de maturidade dos "eleitores": discursos homofóbicos à la Marcelo Dourado não tiveram vez este ano.
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Mastrangelo Reino/Folhapress


A discreta saída do armário de Marco Nanini

Este momento não aconteceu em frente às câmeras, mas sim nas páginas de uma revista cultural, a "Bravo". O ator global se assumiu "en passant" durante uma entrevista, com toda a tranquilidade. A notícia --que não chocou absolutamente ninguém-- repercutiu em alguns sites de celebridades, e só. Nanini tem a seu favor o talento consagrado e o fato de não ser um galãzinho. Coisa semelhante acontece em Hollywood, onde só atores mais velhos, como Ian MacKellen, podem deixar o closet sem o risco de abortar a própria carreira. Mas já é um avanço.
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Também merecem destaque o namoro entre dois rapazes em "Ti Ti Ti", adaptada por Maria Adelaide Amaral, e o exagerado Crô (Marcelo Serrado) de "Fina Estampa" --sinal de que os caricatos ainda têm muito espaço na TV. Aliás, taí a Valéria do "Zorra Total" que não me deixa mentir. Mas agora também há lugar para tipos mais diversos, e isto é ótimo. Visibilidade é poder.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Campanha de 10 anos do grupo Somos de Porto Alegre.



SOMOS lança nova campanha no ano em que comemora 10 anos

Making Of da Campanha

Na próxima quarta-feira, 7, o SOMOS Comunicação, Saúde e Sexualidade estará comemorando 10 anos de atividades e, para marcar um novo ciclo, em que a instituição irá ampliar ainda mais seus trabalhos na área dos direitos humanos, foi programada a apresentação da nova campanha “Acredite em sonhos. Provoque mudanças.” para convidados e apoiadores.


A campanha foi idealizada pelo SOMOS e pela Competence, que é especialista na criação de marcas, e contou também com a participação da Avante Filmes, que produziu as peças audiovisuais. A campanha deve começar a circular a partir de janeiro de 2012.


O lançamento será a partir das 20h no Café Bertoldo da Casa de Teatro (Rua Garibaldi, 853) e, além da apresentação das peças, o evento contará com a participação do Muovere Cia de Dança, de Heinz Limaverde, de Cassandra Calabouço e da cantora Valeria Houston.

O vídeo da campanha será lançado simultaneamente no site do SOMOS. 


Maiores informações através do telefone 3233-8423 ou pelo e-mailsomos@somos.org.br.


Extraído de http://somosglbt.blogspot.com/


Belíssima campanha feita em comemoração aos 10 anos do grupo Somos de Porto Alegre, merece que seja disseminada pela comunidade LGBTT para que mais adiante possamos enfim crer nas afirmações feitas no vídeo.

Porque precisamos de uma lei contra discriminação de orientação sexual ou identidade de gênero?

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Excluídas do mercado de trabalho, travestis encontram sustento e aceitação na prostituição

VLADIMIR MALUF
Da Redação


Comumente vindas de camadas populares e sem apoio familiar, travestis veem na prostituição uma forma de subsistência e o acolhimento que não encontram em outros grupos





Estariam as travestis condenadas à prostituição? Pode ser exagero dizer que sim. Mas pode não ser. Antes de qualquer julgamento, reflita: quantas travestis você tem como colegas de trabalho? Seja chefe ou funcionária. E fazendo faxina na sua casa? Na loja onde você compra roupas, talvez? Abastecendo o seu carro ou te atendendo no “por quilo” onde você almoça diariamente? A verdade é que o mercado de trabalho é duro com esse grupo de pessoas que, muito frequentemente, encontra na prostituição o sustento e, principalmente, acolhimento. E se você ainda duvida que elas tenham poucas opções, responda para si mesmo, honestamente, se você contrataria uma.

O psicólogo da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar-Sorocaba) Marcos Garcia realizou uma pesquisa sobre a prostituição das travestis. Segundo ele, a maioria delas tem origem humilde e procura fazer programas como meio de vida. “Um jovem gay, efeminado, sem apoio financeiro e familiar, vindo de camadas populares e sem possibilidade de estudos vê no comércio sexual uma das poucas saídas.“


    Arquivo pessoal
  • Giovanna Di Pietro, que afirma que o mercado de trabalho é difícil para as travestis



Além do problema da documentação -pois as travestis assumem uma personalidade feminina, mas dependem de sua identidade oficial- o psicólogo Oswaldo Rodrigues Jr., do Instituto Paulista de Sexualidade, diz que as travestis são associadas à prostituição, violência e ilegalidade. “São encaradas de modo negativo, o que as impede de serem contratadas. A percepção é sempre preconcebida. O mecanismo cognitivo exige utilizar vivências passadas para compreender o presente e decidir o futuro. Assim, tudo o que foi ouvido desde criança a respeito de travestis influenciará na tomada de decisões agora.”
Tão importante quanto a renda, o mercado sexual traz o bem-estar que travestis não encontram em outros grupos, normalmente. “É onde elas são valorizadas, principalmente, por clientes. Elas se sentem desejadas por seu corpo feminino. A demonstração do desejo é um fator importante. Se a pessoa está em um processo de buscar se sentir mais feminina, o interesse do cliente, que mostra que ela é feminina, é acalentador”, afirma Marcos Garcia.
Para Giovanna Di Pietro (à dir.), 28, travesti brasileira que faz programas na Europa, não há muita escolha a não ser a prostituição. “É a saída que uma travesti encontra para se transformar. Quando eu comecei a mudar meu corpo, os trabalhos convencionais ficaram praticamente impossíveis”, conta ela, que era assistente de produção de figurino em uma agência de publicidade. “Nessa fase, você passa a ser menos aceita socialmente. Consequentemente, a possibilidade de ingressar no mercado de trabalho é quase nula.” 
Em sua pesquisa, o psicólogo Marco apurou que o mercado sexual também tem como principal atrativo a alta remuneração. “Na prostituição, a exemplo de outras profissões como modelo e jogador de futebol, há um período que traz muito dinheiro. Mas isso muda com o avanço da idade. Os clientes vão rareando. Com isso, a travesti tem uma perda financeira e passa a ser menos desejada, o que é muito sofrido.”
Jovem e bonita, Giovanna concorda que os ganhos são um grande convite para entrar na prostituição. “Quando você está se prostituindo, começa a ganhar dinheiro como nunca ganhou. E esse dinheiro lhe permite investir em você, mudar o corpo, comprar bens materiais etc.”
Dificuldade de compreensão e desrespeito

Marco afirma que nenhum grupo social no Brasil sofre mais discriminação do que as travestis. “Esse preconceito é tão intenso que há quem use o termo ‘transfobia’. Os assassinatos de travestis costumam ser muito cruéis. É um nível de violência altíssimo. Há o preconceito pela orientação sexual, mas, principalmente, pela identidade de gênero.“

Para o psicólogo Rafael Kalaf Cossi, autor de “Corpo em Obra” (Ed. nVersos), sobre transexuais, o preconceito contra homossexuais, em especial as travestis e transexuais, tem uma explicação. “Nós não temos a certeza absoluta da nossa identidade sexual. Isso é uma ilusão. O terreno é muito embaralhado. Quando vemos uma travesti, isso traz à tona algo que a gente não quer saber.“
Excluindo a existência de homossexuais ou qualquer variação pelos pais, as crianças  aprendem que só há homens e mulheres, que devem desejar, respectivamente, mulheres e homens. “Passamos de 15 a 20 anos reforçando essas ideias para confirmar o que somos. Mas há variações inúmeras que não são socialmente compreendidas ou assumidas como reais. Desta maneira, não podemos admitir que exista uma pessoa que destoe do que aprendemos”, explica Oswaldo.

Na opinião do especialista, para compreender as pessoas que são diferentes necessitaria de um grande esforço emocional e comportamental, mas a maior parte das pessoas prefere usar essa energia para investir em outros assuntos, principalmente os de maior retorno financeiro.

“Mesmo as famílias que vivem com uma pessoa transexual, e precisariam adaptar-se, mostrarão grande dificuldade em compreender, elaborar e mudar suas perspectivas cotidianas e adaptar-se a esta identidade não prevista pela família", diz o psicólogo. Outras pessoas têm menos necessidades de se adaptar, "pois há um afastamento afetivo que permita gastar menos energia para modificar suas formas de compreender a realidade.”

Para Oswaldo, que concorda que a sociedade em geral não recebe bem as travestis, as coisas seriam diferentes se não houvesse tamanha discriminação. "A prostituição será abandonada se elas forem reconhecidas pela identidade que compreendem pertencer, mesmo que isso traga dificuldades sociais financeiras."


Opiniões diferentes

O psicólogo Rafael Kalaf Cossi diz que toda manifestação de sexualidade que foge do esperado sofre discriminação, inclusive no mercado de trabalho. Mas ele acredita que o grupo das travestis transforma o corpo para a prostituição –opinião avessa a dos demais especialistas procurados para esta reportagem.

“A transexual, quando incorpora o gênero, costuma ser mais discreta. A travesti usa roupas mais escandalosas. Elas se montam para a cena erótica. É para o mercado do sexo. A transexual, quando se prostitui, não teve alternativa.”

Greta Silveira, travesti que é maquiadora e diretora da Associação da Parada LGBT de São Paulo, diferentemente de Rafael, não acha que esse ou aquele grupo é empurrado para a prostituição.

"Dentro da nossa minoria, a maioria cai na prostituição. Quando são indagadas sobre o que as levou ao mercado sexual, elas dizem que foram expurgadas da sociedade. Mas eu acho que há um pouco de receio de assumir que são prostitutas porque gostam", diz. Para ela, a prostituição é como qualquer profissão e deve ser encarada como tal. "Não acho que ninguém seja empurrado."

Ainda assim, Greta afirma que há preconceito. E disputar um espaço no mercado de trabalho formal exige persistência. "É um caminho mais difícil. Eu tive problemas quando me tornei uma boa maquiadora e comecei a ser chamada para trabalhos maiores. Quando me deparava com gays, sofria preconceito. Coisas que não acontecia ao trabalhar com heterossexuais."