quinta-feira, 24 de maio de 2012

Calendário com transformistas em cenas clássicas gera polêmica no CE


Publicado originalmente por G1

Atores transformistas de Fortaleza produziram o ‘Translendário’.

Reproduções de imagens cristãs foram criticadas na Assembleia do Ceará.


No mês de abril, "O Último Truque" faz referência ao quadro "A Última Ceia", de Leonardo da Vinci. (Foto: Translendário/Divulgação)
O grupo “As Trasvestidas” lançou no Ceará um calendário com 12 imagens em que atores transformistas aparecem em obras clássicas e cenas populares. Nas páginas dos meses de janeiro a dezembro do “Translendário”, como é intitulado o trabalho, há releituras das pinturas “Mona Lisa” e “A Última Ceia”, de Leonardo da Vinci, e da escultura Pietà, de Michelangelo. A presença da logomarca da Prefeitura de Fortaleza na publicação gerou polêmica na Assembleia Legislativa do Ceará nesta terça-feira (8), mas o município diz que não apoiou financeiramente o calendário. Um deputado estadual considera o calendário um ”desrespeito” aos cristãos. (Veja as 12 páginas do calendário)

Carmen Miranda está no mês de fevereiro, em “Disseram que voltei Trans-Operada”. (Foto: Translendário/Divulgação)
“A ideia do ‘Translendário’ foi fazer um produto com qualidade que pudesse levar uma imagem positiva do universo trans. Uma imagem diferente da lama e da prostituição”, explica um dos idealizadores do projeto, Silvero Pereira.
De acordo com o ator, produtor e professor, o nome diferente para o calendário surgiu para fazer alusões ao objetivo do produto e “às travestis como lendas da nossa cultura”. A escolha das 12 imagens não foi fácil, segundo Silvero Pereira, e discutida em reuniões com os produtores durante os dois anos que o projeto foi idealizado.
“Queríamos uma visibilidade positiva e, com uma boa fotografia, produção e design, pensamos em obras clássicas que fossem referência para as pessoas, que já fizessem parte do imaginário coletivo”, afirma.
Com referências do mundo LGBTT, o mês de agosto do “Translendário” traz, por exemplo, a “Transvênus”, uma releitura da obra “O Nascimento de Vênus”, de Sandro Botticelli. A capa clássica do disco “Abbey Road”, do The Beattles, também é lembrada no mês de julho na versão “Crossdressroad”. A famosa “Mona Lisa”, de Leonardo da Vinci, transformou-se em “Mona”, e a cantora Carmen Miranda é retratada com as tradicionais cores e pose e o título “Disseram que voltei Trans-Operada”.

Pintura clássica de Da Vinci ganha versão "Mona" em calendário. (Foto: Translendário/Divulgação)
Segundo o idealizador, foram impressos 400 exemplares que, desde janeiro, são distribuídos em eventos e ONGs ligadas ao movimento LGBTT. O “Translendário” também pode ser comercializado pelo valor de R$ 10, mas a venda está suspensa, de acordo com Pereira, depois que o calendário recebeu críticas na Assembleia Legislativa do Ceará. “Queremos esclarecer qual é o objetivo do nosso trabalho”, diz.

Polêmica
O deputado estadual Fernando Hugo (PSDB-CE) apresentou o “Translendário” na manhã de terça-feira (8) no plenário da Assembleia Legislativa afirmando que as imagens o fizeram se sentir desrespeitado como cristão. “Eles [grupo LGBTT] que tanto querem respeito, deviam primeiro respeitar”, disse o deputado em contato com o G1 nesta quarta-feira (9).
Segundo Silvero Pereira, o calendário traz releituras de obras de arte. “Não tem nada a ver com religião. É uma releitura artística, das obras de arte, assim como é feita em outras artes. Michelangelo e Da Vinci nem católicos eram”, diz.

Com cenas cristãs, como a Pietà, calendário causou polêmica. (Foto: Translendário/Divulgação)
Outra crítica do deputado é a impressão da logomarca da Prefeitura de Fortaleza na primeira página dos calendários. Fernando Hugo informou que já entrou com uma ação no Ministério Público pedindo explicações sobre o tipo de apoio dado pela Prefeitura de Fortaleza ao calendário.
“O que é desalentador é que a prefeitura lamenta tanto a falta de dinheiro para investir e destina de modo fácil e rápido recursos para uma publicação assim”, disse o deputado, completando, “é um gasto de dinheiro do povo numa publicação que nada produz de educativo. Quero saber qual o fundamento. Qual o beneficio que ele trará ao povo de Fortaleza?”.
A Prefeitura de Fortaleza informou, por meio da Secretaria de Direitos Humanos, que o Translendário não recebeu apoio financeiro do município e a marca da gestão foi utilizada indevidamente pela organização. “Todo o investimento foi feito pelo grupo (As Trasvestidas) e realizado com apresentações artisticas”, afirma Silvero Pereira.
“A ideia de colocar logomarca da Prefeitura foi uma decisão minha em agradecimento às ações e parceiras desenvolvidas pela Coordenadoria da Diversidade Sexual. Por isso, coloquei como apoio”, diz. O artista acrescenta que o grupo deciciu retirar a primeira página do calendário que contém a referência à prefeitura municipal.
Segundo o produtor cultural, os valores dos cachês e da renda da bilheteria de espetáculos encenados pelo grupo foram destinados para a produção do calendário que não contou com verba da Prefeitura. O custo do produto, segundo Pereira, variou entre R$ 2.000 e R$ 2.500 e os envolvidos no projeto não cobraram pelo trabalho.
Apesar de criticar a presença da logomarca “Fortaleza Bela” na publicação e criticar a forma como o conteúdo foi apresentado, Fernando Hugo disse não ser contra o público LGBTT ou manifestações pela diversidade sexual. “Porém, como cristão, sem ser piegas ou carolista, posso dizer que os travestis desrespeitaram o mundo cristão”, afirma.

extraído de 

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Escola para travestis na Argentina usa metodologia do brasileiro Paulo Freire14


Thiago Minami
Do UOL, em Buenos Aires









Quando chegou a Buenos Aires aos 15 anos de idade, a travesti Virginia Silveira queria se tornar advogada. Abandonou a família e os estudos na terra natal, Salta (a 1597 quilômetros de Buenos Aires), para realizar, sozinha, o sonho nas elegantes ruas da capital argentina.
A vida que levou, porém, não tinha nenhum charme. Como é comum entre as travestis em diversos países, Virginia recorreu à prostituição para sobreviver na cidade grande. “É uma rotina muito dura para uma adolescente. Mas você se vê sem ter para onde correr”, diz. Como se vestia de menina desde pequena, era vítima de exclusão na escola. Ficava de lado nos trabalhos em grupo e não conseguia ir ao banheiro. “Me aguentava até voltar para casa, porque não me sentia à vontade para ir com os meninos.”
Desde março, Virginia, hoje com 22 anos, está de volta aos estudos. Ela é uma das 35 alunas da escola de travestis Mocha Celis. As aulas não são sobre como usar salto alto ou se maquiar, mas, sim, um supletivo para quem não completou o ensino médio, com aulas de língua, matemática, ciências e outras disciplinas que estariam em qualquer instituição do tipo. Dez alunos são heterossexuais. Em geral, eles são parte de outras minorias excluídas do sistema educacional, como imigrantes.
“A diferença é que agregamos discussões de gêneros aos tópicos das disciplinas”, explica Francisco Quiñones, 27, um dos 25 coordenadores e também professor do curso “Gênero” define a construção social da sexualidade e a maneira como o indivíduo se vê. Virginia, por exemplo, nasceu com o sexo masculino, mas seu gênero é feminino. Isso influencia o aprendizado em áreas como a biologia, em que tradicionalmente só é abordada a divisão sexual entre homens e mulheres. Na Mocha Celis, são discutidas também as razões para a existência de travestis e transexuais – como a questão é vista pela biologia, sociologia e psicologia.

Gestão democrática


O educador brasileiro Paulo Freire é um dos mais citados do mundo. Basicamente, ele preconiza a educação como um processo de transformação social. Diz que é preciso acabar com a relação entre professor mestre-do-conhecimento e aluno folha-de-papel-em-branco (veja mais abaixo).
A Mocha Celis decidiu levar Freire a sério. Organiza as aulas em mesas redondas, ao redor das quais educadores e estudantes debatem as questões lado a lado. As regras são decididas em conjunto, como provam cartazes verdes colados na sala de aula – uma norma é escrita a caneta e, abaixo dela, fica o espaço para manifestações contrárias. Uma delas diz: “não se deve fumar em sala de aula”, e logo alguém protesta: “por que não? E a liberdade de atitude?”.
Chegar a um consenso, no entanto, leva tempo e nem sempre é possível. Na Mocha Celis, além dos heterossexuais e os transexuais masculinos, há também as femininas – meninos que nasceram meninas. Segundo Francisco, não há problemas de relacionamentos entre as partes. “Só precisamos melhorar um pouco a integração entre elas”, diz.

Este é só o primeiro desafio


Muitas alunas da Mocha Celis vivem da prostituição. Outras são manicures e empregadas domésticas. “Em comum, todas sonham escolher a profissão que desejam – e não serem obrigadas a seguir aquelas que a sociedade impõe”, diz Quiñones.
É o que leva Laura Barrionuevo, 28, a enfrentar três horas de transporte público todos os dias para fazer o supletivo. Ela quer cursar radiologia. “É a melhor oportunidade que tive na vida até agora”, conta à reportagem do UOL, logo após dar entrevista a dois canais locais de TV. Laura trabalha de empregada doméstica e, assim como Virginia, também deixou a escola porque não era aceita pelos demais. 
Quiñones é otimista em relação à exclusão no mercado de trabalho. “O Estado está mudando a cabeça, então as empresas também devem seguir”, diz. A briga pela aceitação social da diversidade é parte do currículo. No último dia 09, professores e estudantes uniram-se na Praça do Congresso para pressionar o Senado argentino a aprovar a Lei de Identidade e Gênero, que, entre outras medidas, garante a operação gratuita de mudança de sexo a transexuais. Na mesma data, a lei foi ratificada por unanimidade.

Infraestrutura


Além das questões de ordem nacional, a Mocha Celis precisa enfrentar também problemas como a falta de verba e infraestrutura. Ela é considerada um “bacharelato popular”, um tipo de insituição educacional sem fins lucrativos que recebe apoio financeiro do governo. A condição para o dinheiro chegar, porém, é que pelo menos uma turma esteja formada. “Até lá, estamos fazendo uma vaquinha e colocando do próprio bolso. Temos um gasto mensal de 12 mil pesos (R$ 6 mil)”, afirma Francisco.


MAIS HISTÓRIAS

  • Arquivo pessoal
    Cearense é a primeira travesti a apresentar uma tese de doutorado no Brasil; conheça sua trajetória
Quem visita Buenos Aires a turismo dificilmente verá locais como a escola. Funciona no quinto andar de um prédio antigo no bairro de Chacarita –sem nada da beleza dos casarões característicos da cidade– e conta com pouco mais que uma pequena lousa manchada, mesas velhas e instalações precárias, que parecem ter sido abandonadas por um longo tempo. Numa cozinha com poucos utensílios, os alunos fazem comida para sustentar os colegas mais pobres. Os ingredientes são comprados em conjunto.
O ambiente parece relembrar a história da própria Mocha Celis, travesti que dá nome ao curso. Após ser levada à prisão diversas vezes, foi morta com três tiros em condições obscuras – ao que tudo indica, vítima da violência policial. Sempre que ia parar na cadeia, Mocha, analfabeta, precisava de ajuda para assinar o próprio nome e ler os termos judiciais.
Na Argentina, apenas 14 % das garotas travestis terminam o ensino fundamental, contra 98 % do resto da população, segundo dados da ALITT (Associação de Luta pela Identidade Travesti e Transgênero). A falta de educação e a vida cheia de riscos abaixa a expectativa de vida para 35 anos, comparável aos países mais pobres do mundo em situação de guerra. Na Argentina, a expectativa média da população geral é de 76 anos. Por isso, os estudantes estão esperançosos. “Minha maior dor era não me sentir útil à sociedade”, diz Virginia. “Aconselho os travestis a sair da prostituição. Assim vão se dar conta de que a vida é bem maior e não vão querer voltar nunca mais ao passado.”

PARA PAULO FREIRE, ALUNO É SUJEITO, NÃO ESPECTADOR

A democracia na escola é um ponto essencial do pensador brasileiro Paulo Freire. Para ele, professores e alunos estão em posições contrárias, mas ao mesmo tempo de igualdade, com uma troca contínua de saberes e conhecimentos. “Ninguém só aprende, ninguém só ensina. Não se diz ao outro a verdade, mas, com ele, partilha-se a busca pelo conhecimento”, diz Agostinho Rosa, presidente do Centro Paulo Freire, no Recife. Para Freire, estudantes não são vazios de conhecimento. São sujeitos com histórias e vivências próprias, que devem ser levadas em consideração a todo o tempo na sala de aula. Muitas vezes, surgem contradições entre os universos que se tornam parte importante do processo de aprendizado. “É pelo reconhecimento da diferença e da pluralidade que Paulo Freire pensa a escola. Discutir com o outro é uma apropriação democrática”, explica Rosa. Por meio da formação de protagonistas sociais, capacitados para adquirir e produzir cultura, a escola pensada por Paulo Freire é capaz de gerar consciência crítica, levar a transformações na sociedade e reverter as relações de exploração.






sexta-feira, 18 de maio de 2012

Pronunciamento de Jean Wyllys por ocasião do Dia Nacional de Combate à Homofobia


Por Diana C. em 17/05/2012 às 16h52


"Não rebaixo a pauta LGBT". Foi essa a explicação do deputado federal Jean Wyllys (PSOL -RJ) ao se recusar a debater sobre homofobia e direitos humanos, ao vivo, na Rádio Globo, com o deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ). 

"A emissora não me avisou da presença do deputado homofóbico e eu já entrei no ar ouvindo seu discurso odioso e difamador dos homossexuais", escreveu Wyllys em sua página no Twitter. 

Para o deputado, "não há como debater algo sério como direitos humanos de LGBTs (assunto sobre o qual há tanto preconceito) num clima sensacionalista". Ainda segundo Jean Wyllys, o "deputado homofóbico [Jair Bolsonaro] não oferece argumentos contrários à criminalização da homofobia; oferece tão somente ofensas e hipocrisia! Não dá!", desabafou. 

Por fim, o deputado afirmou que não dará mais espaços para discursos de ódio. "Não me farei de escada para elevar discursos de ódio que já têm espaço demais nas mídias, contando inclusive com aval de apresentadores", declarou. de ódio contra homossexuais. Assista abaixo.

O parlamentar aproveitou também o Dia Internacional de Combate à Homofobia para se pronunciar na tribuna do Plenário defendendo a criminalização dos crimes 


quarta-feira, 9 de maio de 2012

Cearense é a primeira travesti a apresentar uma tese de doutorado no Brasil

Gabriel Carvalho
Do UOL, em Salvador





A cearense Luma Andrade será a primeira travesti do Brasil a apresentar uma tese de doutorado, segundo informa a ABGLT (Associação Brasileiras de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transexuais e Transgêneros). Graduada em ciências naturais pela Uece (Universidade Estadual do Ceará) e com mestrado na área do desenvolvimento do meio ambiente pela UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte), agora, aos 35 anos, ela é doutoranda em educação pela UFC (Universidade Federal do Ceará).

Para obter o título de doutora, ela se inspirou na própria realidade e produziu um estudo baseado no acesso das travestis (homossexuais que se vestem como mulheres) cearenses à educação. “Pude constatar que está havendo um aumento do acesso e também da procura pela escola, mas ainda há resistências como a discriminação, bullying e a marginalização”, disse ao UOL Educação por telefone.

Resistência, aliás, é uma palavra ou até mesmo um sentimento muito conhecido por Luma. “Desde os oito anos de idade que convivo com isso. Já cheguei a apanhar na escola e ouvir da professora que era bem feito”, contou.

Mesmo assim, ela disse que focou a atenção para os estudos e usou sua aptidão para as ciências exatas como uma aliada na conquista de amigos e de respeito dos colegas. “Eu sabia matemática e fiz com que isso me ajudasse. Passei a dar aulas para os colegas e eles passaram a ser meus amigos”, disse.

Em casa ela usou a mesma estratégia de focar a atenção para os estudos, na hora de responder os questionamentos dos pais, dois agricultores analfabetos que não a discriminavam, mas sempre perguntavam por uma namorada, principalmente no período da adolescência.

Já adulta, chegou a ir, nos primeiros dias, para o campus da Uece, no município de Limoeiro do Norte, onde concluiu a graduação, vestida com roupas masculinas para evitar situações de preconceito e constrangimento, mas a estratégia não deu certo. No primeiro dia de aula, ela conta que foi uma chacota geral, mas, depois que resolveu usar roupas femininas, as pessoas a conheceram melhor e ela começou a ser aceita. “De início foi uma decepção, pois achava que na universidade as pessoas eram mais maduras”, disse.
Início na vida profissional foi marcado por dificuldades

Depois de formada, Luma recebeu o convite de um ex-professor da faculdade para dar aula em uma escola, mas o que parecia ser uma grande oportunidade, na verdade foi um grande teste.

“Era terrível, os dirigentes e outros professores ficavam atrás das portas assistindo à minha aula. Os alunos também ficavam rindo e muitos gritavam: gay, viado (sic), dentre outros palavrões. No fundo, eles achavam que a minha aula (de ciências naturais) ia ser uma palhaçada, mas sempre no primeiro dia, eu contava a minha história de vida e ganhava fãs e aliados. Eles também são pobres, nordestinos e sonham com dias melhores. “Além disso, sempre mantive postura, seriedade para lecionar, o que foi fundamental para adquirir o respeito de alunos e colegas”, completa.

Depois de conquistar estabilidade e ser aprovada em concurso público na área de Educação, Luma passou na seleção de um mestrado em Mossoró, no Rio Grande do Norte, e a cidade cearense mais próxima era Aracati. “Começou tudo de novo, tive que voltar à estaca zero”, disse Luma que precisou pedir uma intervenção da Secretaria Estadual da Educação do Ceará para ser admitida em concurso que havia sido a única pessoa a ser aprovada. “A minha nomeação era sempre protelada sem que um motivo fosse alegado".

Anos depois, em 2005, desenvolveu o projeto “Intimamente Mulher” que incentivava alunas e professoras a fazer exames de prevenção que lhe rendeu o primeiro lugar no Estado e um prêmio no Ministério da Educação.

Atualmente, Luma está casada com um professor de História, realiza palestras, é constantemente convidada para ser madrinha de formaturas e passeatas, além de presidir a Associação Russana de Diversidade Humana, na cidade de Russas, a 165 km de Fortaleza.
Tese de doutorado

Essas e outras barreiras enfrentadas por travestis foram relatadas na tese da doutoranda, que aponta alguns entraves enfrentados por travestis nos ensinos médio, fundamental e superior. “Uma coisa é o nome, onde muitos professores fazem questão de gerar um constrangimento as chamando pelo nome de batismo, outra é a utilização do banheiro, onde somos obrigadas a usar os sanitários masculinos, o que é muito desagradável, pois as travestis acabam sendo vítimas de muita gozação, agressões físicas, tentativas de estupro e isso tudo faz com que elas deixem a escola”, disse ela que há dois anos conseguiu mudar os documentos e abandonar o antigo nome de João.

O uso do banheiro por parte das travestis é um dos capítulos da tese de Luma. Ela disse que prendia a urina e só ia ao banheiro depois que chegava em casa, o que lhe rendeu, à época dores abdominais, dilatação da bexiga, além do desconforto no momento em que assistia a aula. “Muitas vezes eu perdia a concentração”, resume.
Realidades diferentes no interior e nos grandes centros

Na apuração para a produção da tese de doutorado, Luma Andrade, estudou 95 casos em todo o Ceará, mas três cidades tiveram maior destaque: Fortaleza, Russas e Tabuleiro do Norte. Nos municípios, ela encontrou duas realidades diferentes.

Na capital, mesmo com uma maior oferta de estabelecimentos educacionais, as travestis quase não têm acesso à educação e a maioria se concentra em zonas de prostituição no centro e na orla da cidade. Já em Russas e em Tabuleiro do Norte, ela acompanhou de perto a história de três travestis que freqüentavam aulas em escolas de ensino fundamental e médio. “Por incrível que pareça, no interior elas são mais acolhidas e o preconceito é menor, pois elas conseguem viver no ambiente da família, sem precisar se prostituir. É possível ver travestis trabalhando no comércio como vendedoras e em diversas atividades”, observa.

Outra coisa que chamou a atenção da doutoranda foi o fato de muitos dirigentes escolares e educadores não saberem distinguir uma travesti de um homossexual. Segundo o manual de comunicação da Associação Brasileiras de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transexuais e Transgêneros (ABGLT), "um travesti é a pessoa que nasce do sexo masculino ou feminino, mas que tem sua identidade de gênero oposta ao seu sexo biológico, assumindo papéis de gênero diferentes daquele imposto pela sociedade". Já um homossexual é, segundo o documento, "a pessoa que se sente atraída sexual, emocional ou afetivamente por pessoas do mesmo sexo/gênero".

SAIBA AS DIFERENÇAS


TravestiPessoa que nasce do sexo masculino ou feminino, mas que tem sua identidade de gênero oposta ao seu sexo biológico, assumindo papéis de gênero diferentes daquele imposto pela sociedade. Utiliza-se o artigo definido feminino “A” para falar da Travesti (aquela que possui seios, corpo, vestimentas, cabelos, e formas femininas).
HomossexualÉ a pessoa que se sente atraída sexual, emocional ou afetivamente por pessoas do mesmo sexo/gênero.
BissexualÉ a pessoa que se relaciona afetiva e sexualmente com pessoas de ambos os sexos/gêneros. Bi é uma forma reduzida de falar de pessoas bissexuais
HeterossexualIndivíduo amorosamente, fisicamente e afetivamente atraído por pessoas do sexo/gênero oposto. Heterossexuais não precisam, necessariamente, terem tido experiências sexuais com pessoas do outro sexo/gênero para se identificarem como tal.
LésbicaMulher que é atraída afetivamente e/ou sexualmente por pessoas do mesmo sexo/gênero. Não precisam ter tido, necessariamente, experiências sexuais com outras mulheres para se identificarem como lésbicas.
Drag QueenHomem que se veste com roupas femininas de forma satírica e extravagante para o exercício da profissão em shows e outros eventos. Uma drag queen não deixa de ser um tipo de “transformista” (consultar abaixo o termo), pois o uso das roupas está ligado a questões artísticas – a diferença é que a produção necessariamente focaliza o humor, o exagero.
TransexualPessoa que possui uma identidade de gênero diferente do sexo designado no nascimento. Homens e mulheres transexuais podem manifestar o desejo de se submeterem a intervenções médico-cirúrgicas para realizarem a adequação dos seus atributos físicos de nascença (inclusive genitais) a sua identidade de gênero constituída.
TransformistaIndivíduo que se veste com roupas do gênero oposto movido por questões artísticas.
TransgêneroTerminologia utilizada para descrever pessoas que transitam entre os gêneros. São pessoas cuja identidade de gênero transcende as definições convencionais de sexualidade.

  • Fonte: Manual de Comunicação LGBT da Associação Brasileiras de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transexuais e Transgêneros

Travesti vence preconceito e faz doutorado

KAMILA FERNANDES
da Agência Folha, em Fortaleza





Desde os nove anos, João Filho Nogueira de Andrade sofre preconceito por ser "diferente". Agora, aos 31, para compreender essa rejeição, João Filho -ou melhor, Luma Andrade, como prefere ser chamada- ingressou no doutorado em educação na Universidade Federal do Ceará, tornando-se, oficialmente, o primeiro travesti a alcançar esse nível da carreira acadêmica no país, de acordo com a ABGLT (Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais).
Luma também é servidora concursada do Estado, na Secretaria da Educação. Coordena 28 escolas em 13 municípios do interior do Ceará.

A função permite que ela intervenha em casos como o de uma diretora que chamou os pais para reclamar que o filho era gay e de outra que queria impedir a entrada de alunos travestis que usassem batom.

"Falei que isso não era certo, que era imoral. É preciso que entendam que a própria Constituição garante o direito de todos à educação, sem discriminação", disse Luma, que sempre viveu em cidades do interior. Hoje, mora em Russas (165 km de Fortaleza).

Preconceito

O caminho de Luma, de acordo com ela mesma, tem sido bem diferente do vivido pela maioria dos travestis. Filha de analfabetos pobres, ela disse que já chegou até a receber convites para "fazer programas", mas que decidiu estudar para ajudar a família.

A primeira dificuldade enfrentada por ela foi na terceira série, quando, por só brincar com meninas, apanhou de um colega da sala. "Quando fui chorando contar para a professora, ela virou e disse: "Bem feito, quem manda você ser desse jeito?" Eu era uma criança, mas percebi, então, que ela me via diferente e que me condenava."

Gracejos e pequenas agressões cometidas por colegas a acompanharam em todo o seu percurso escolar, o que só diminuía perto das provas, quando a procuravam para que ensinasse matemática.

Formada em ciências, com habilitação em biologia e química, pela Universidade Estadual do Ceará, Luma também sofreu para conseguir ser professora. Um diretor, segundo ela, ficou um mês a espiando dar aulas, enquanto outro tentou impedir sua posse, apesar das boas notas no concurso.

Entre os alunos, também há reações de estranhamento. "É sempre um choque quando chego. Daí tento mostrar que tudo bem, sou um travesti, mas sou, acima de tudo, um ser humano, com valores."

Luma lembra que viveu um de seus piores momentos quando entrou numa escola em Tabuleiro do Norte (211 km de Fortaleza). "Entrei na quadra e começou um coro dos alunos: "Veado, veado". Cheguei a ficar com um desespero, mas vi que não podia sair, que eles não tinham culpa, e então comecei um discurso para mostrar que não importa o que cada um é."

Para Luma, o preconceito reproduzido no ambiente escolar acaba por afastar os jovens travestis da sala de aula, condenando-os muitas vezes às ruas.

Para entender esse processo de exclusão social, ela começou a pesquisar, para a sua tese, casos de travestis que freqüentam escolas públicas. Ela deve concluir o doutorado até 2012.

sábado, 5 de maio de 2012

Só Para Entenderem...



União entre duas pessoas do mesmo sexo = união HOMOAFETIVA
Prática sexual entre pessoas de mesmo sexo = relação HOMOERÓTICA

Pessoas que mantém alguma relação sexual ou afetiva com pessoas do mesmo sexo = HOMOSSEXUAL

Não se usa mais o termo homossexuaLISMO pois isso determina uma relação com doença

Os termos gay e homossexual podem e devem ser aplicados as MULHERES lésbicas

Transexual = pessoas que identifica-se com o sexo e o gênero oposto ao seu.

*transMulher = do sexo masculino com identidade de sexo e gênero mulher
*transHomem = do sexo feminino com identidade de sexo e gênero homem

Transgênero = pessoas que identificam-se do gênero oposto ao seu, que usam de intervenções cirúrgicas ou não para obterem a semelhança desejada. (o travesti era chamado e reconhecido assim, porém é mais além do que só vestir-se)

CrossDress = ato de vestir-se com as vestimentas do gênero oposto ao seu sem identificar-se sexualmente com o gênero das vestimentas no desejo a pares iguais.

Fica a dica para entenderem as nomenclaturas isso é importante